✅ Última atualização em 05/07/2023
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ToggleA Indústria Cinematográfica: Descubra Como Hollywood Mudou a Forma de Produzir Filmes
Saiba como o modelo de produção de filmes conhecido como The Studio System dominou a indústria cinematográfica de Hollywood durante as décadas de 1920 a 1950.
O cinema é um grande influenciador de todos que almejam a carreira no audiovisual, principalmente na indústria cinematográfica.
Seja na referência de filmes, de diretores, atuações renomadas de atores e atrizes, produtores, roteiros, cinematografia, direção de arte ou em qualquer outro aspecto artístico, sempre nos baseamos em algo que nos foi ensinado no começo do século passado no universo das artes.
Para isso, precisamos entender alguns aspectos importantes da história da indústria cinematográfica, principalmente de uma das populares no mundo, a americana (abordaremos a indústria de cinema indiana, Bollywood, em um outro post).
Câmera de filme 35mm
O que é o Studio System na Indústria Cinematográfica?
Tudo começou nos anos 1920 quando as grandes companhias de produção cinematográfica como a Paramount Pictures, a Warner Bros., a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), a Universal Pictures e a RKO Pictures começaram a dominar e controlar todos os aspectos da produção cinematográfica, desde a criação do filme até sua distribuição.
Além de produzirem, tais estúdios adquiriram e controlaram as principais salas de cinema nos Estados Unidos, o que lhes permitiu determinar quais filmes seriam exibidos e quais não entrariam em cartaz.
Eles também estabeleceram contratos (alguns bem rigorosos) de longo prazo com alguns atores e atrizes, diretores e outros profissionais do cinema, criando uma rede de talentos sob seu controle.
O sistema tinha várias características distintas.
Primeiro, os estúdios eram verticalmente integrados, o que significa que eles possuíam seus próprios estúdios de produção, distribuição e exibição de filmes. Em outras palavras, era uma espécie de monopólio da indústria cinematográfica.
Os estúdios controlavam a produção de filmes em todo o seu processo, desde o roteiro até a finalização, garantindo um alto grau de padronização e eficiência conforme suas diretrizes.
Em seguida, os atores e atrizes eram geralmente contratados exclusivamente por um único estúdio e eram frequentemente “emprestados” para outros estúdios em uma espécie de acordo para realizar determinados projetos.
Isso permitia aos estúdios controlar as carreiras de seus talentos e manter uma imagem consistente para os artistas, o que consideravam um aspecto crucial para a identidade visual de ambos (algo que os influenciadores digitais representam hoje para grandes marcas).
Além disso, os estúdios mantinham um sistema de produção em série, em que produziam uma grande quantidade de filmes em um curto período de tempo.
Isso era possível devido à divisão do trabalho, cronograma detalhado e à existência de uma equipe regular e constante de diretores, roteiristas, técnicos e outros profissionais.
Em alguns casos, esse “processo em escala industrial” acabava fadigando alguns membros das equipes pelo alto volume de trabalho em curtos espaços de tempo o que comprometia a qualidade de algumas produções dos estúdios.
No entanto, nas décadas de 1940 e 1950, o Studio System começou a entrar em declínio.
Uma série de fatores, incluindo pressões antitruste, mudanças sociais e culturais, bem como avanços tecnológicos, levaram à quebra do sistema.
O governo dos Estados Unidos entrou com ações antitruste contra os estúdios, acusando-os de monopólio e práticas comerciais desleais.
Essas ações resultaram em uma série de decisões judiciais que forçaram os estúdios a se separarem de suas redes de cinema e abandonar as práticas monopolistas.
Além disso, o surgimento da televisão como uma nova forma de entretenimento afetou significativamente a indústria cinematográfica.
Os estúdios tiveram que se adaptar a esse novo “concorrente”, o que levou a mudanças em suas estratégias de produção e distribuição, fazendo-os repensar em todo fluxo da produção de filmes.
Como resultado, o Sistema de Estúdio gradualmente foi sumindo e cada vez mais esquecido dando lugar a um modelo mais descentralizado de produção e distribuição de filmes em Hollywood.
O papel dos estúdios de Hollywood no Sistema
Os estúdios de cinema durante as décadas de 20 a 50 eram as principais entidades responsáveis pela produção, distribuição e exibição de filmes, exercendo um controle quase total sobre a indústria cinematográfica.
Os principais estúdios envolvidos no Sistema de Estúdio de Hollywood eram conhecidos como “The Big Five” (Os Cinco Grandes) e “The Little Three” (Os Três Pequenos).
Paramount Studios
Paramount Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Warner Bros., RKO Pictures e 20th Century Fox eram Os Cinco Grandes.
A Paramount Pictures, fundada em 1912, foi um dos estúdios mais antigos e de maior sucesso na época do Sistema de Estúdio.
Sob sua guarda, alguns dos filmes mais notáveis incluem “O Poderoso Chefão” (The Godfather, 1972) e “Titanic” (1997).
Estúdios Paramount, Los Angeles
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
A Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), muito famosa pelo leão e seu lema “Ars Gratia Artis” (Arte pela Arte), produziu inúmeros clássicos como “E o Vento Levou” (Gone with the Wind, 1939) e “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939).
Warner Bros.
Já a Warner Bros. conhecida por sua ênfase em filmes de gangsters e dramas sociais teve sucessos como “Casablanca” (1942) e “O Poderoso Chefão” (The Godfather, 1972).
Estúdios Warner em Burbank, Los Angeles
RKO Pictures
A RKO Pictures, embora tenha tido uma trajetória mais instável, lançou filmes icônicos como “Cidadão Kane” (Citizen Kane, 1941) e “King Kong” (1933).
Por último, mas não menos importante, a 20th Century Fox, fundada em 1935, produziu filmes como “Cleópatra” (Cleopatra, 1963) e “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” (Star Wars: Episode IV – A New Hope, 1977).
Mas não eram apenas Os Cinco Grandes que dominavam a era do Sistema.
Três outros estúdios de menor estrutura também possuíam em contrato diversos atores, atrizes, diretores e outros profissionais sob sua guarda durante as três décadas.
A Universal Pictures conhecida por seus filmes de terror, lançou clássicos como “Drácula” (1931) e “Frankenstein” (1931).
Universal Estúdios, Los Angeles
A Columbia Pictures, embora tenha começado como um estúdio menor, cresceu em popularidade ao longo dos anos, produzindo filmes notáveis como “Lawrence da Arábia” (Lawrence of Arabia, 1962) e “On the Waterfront” (1954).
E por fim, a United Artists, diferente dos outros estúdios, foi fundada por atores e diretores, incluindo Charlie Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith. A empresa distribuiu filmes importantes, como “007 Contra Goldfinger” (Goldfinger, 1964) e “West Side Story” (1961).
Por exercerem controle total sobre a produção de filmes e seus contratos exclusivos com atores, diretores, roteiristas e outros profissionais da indústria cinematográfica chamados de “estrelas de contrato” eram vinculados a um estúdio específico.
Além dos profissionais, os estúdios controlavam praticamente todos os aspectos da produção além dos citados anteriormente, incluindo o financiamento, a contratação de talentos, a criação de roteiros, a filmagem, a edição e a distribuição dos filmes mantendo um fluxo constante e intermitente de filmes, lançando várias produções por semana maximizando cada vez mais seus lucros.
O Sistema de Estúdio de Hollywood e suas estrelas
Foram muitos os profissionais que se destacaram durante o Sistema de Estúdio de Hollywood.
A lista de talentos influentes na época é extensa.
Mas para ter uma ideia, veja abaixo alguns dos atores, atrizes, diretores e outros profissionais de grande relevância na época:
- Atrizes do Sistema de Estúdio de Hollywood
Katharine Hepburn “Adivinhe Quem Vem para Jantar” (Guess Who’s Coming to Dinner, 1967)
Marilyn Monroe “Quanto Mais Quente Melhor” (Some Like It Hot, 1959)
Ingrid Bergman “Casablanca” (1942)
Grace Kelly “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954)
Joan Crawford “Almas em Leilão” (Mildred Pierce, 1945)
Greta Garbo “A Mulher Dividida” (Anna Karenina, 1935)
Bette Davis “Jezebel” (1938)
Judy Garland “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939)
Vivien Leigh “E o Vento Levou” (Gone with the Wind, 1939)
Audrey Hepburn “Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany’s, 1961)
- Atores do Sistema de Estúdio de Hollywood
James Cagney “O Inimigo Público Número Um” (The Public Enemy, 1931)
Cary Grant “Levada da Breca” (Bringing Up Baby, 1938)
James Stewart “Um Corpo que Cai” (Vertigo, 1958)
John Wayne “Rio Vermelho” (Red River, 1948)
Spencer Tracy “Julgamento em Nuremberg” (Judgment at Nuremberg, 1961)
Gary Cooper “O Galante Mr. Deeds” (Mr. Deeds Goes to Town, 1936)
Marlon Brando “Um Bonde Chamado Desejo” (A Streetcar Named Desire, 1951) e “O Poderoso Chefão” (The Godfather, 1972)
Humphrey Bogart “Casablanca” (1942)
Clark Gable “E o Vento Levou” (Gone with the Wind, 1939)
Fred Astaire “A Roda da Fortuna” (Swing Time, 1936)
- Diretores do Sistema de Estúdio de Hollywood
Alfred Hitchcock “Psicose” (Psycho, 1960) e “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954)
Orson Welles “Cidadão Kane” (Citizen Kane, 1941)
John Ford “No Tempo das Diligências” (Stagecoach, 1939)
Howard Hawks “Scarface” (1932)
Billy Wilder “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Boulevard, 1950)
Frank Capra “Adorável Vagabundo” (Mr. Deeds Goes to Town, 1936)
George Cukor “E o Vento Levou” (Gone with the Wind, 1939) – Cukor dirigiu algumas cenas, mas não todo o filme.
Ernst Lubitsch “Ser ou Não Ser” (To Be or Not to Be, 1942)
Victor Fleming “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939)
Elia Kazan “Viva Zapata!” (1952)
- Outros profissionais do Sistema de Estúdio de Hollywood
Walter Wanger (produtor)
Cecil B. DeMille (produtor e diretor)
Irving Thalberg (produtor)
Samuel Goldwyn (produtor)
David O. Selznick (produtor)
Edith Head (figurinista)
Cedric Gibbons (diretor de arte)
Darryl F. Zanuck (produtor)
George Stevens (diretor)
William Wyler (diretor)
Estátua em homenagem aos grandes cineastas dos primórdios do cinema
Burbank, Los Angeles
O fim do Studio System de Hollywood e a transição para uma nova Era na indústria cinematográfica
O fim do Sistema de Estúdio de Hollywood foi causado por uma sequência de fatores que ocorreram ao longo das décadas de 1940 e 1950.
A indústria cinematográfica estava passando por diversos costumes culturais e mudanças sociais, econômicas e legais que desafiaram a hegemonia dos grandes estúdios levando à sua fragmentação.
E uma das principais mudanças ocorreu em 1948, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu o caso “United States versus os estúdios da Paramount Pictures”, conhecido como o “Caso Divisão Paramount”.
Essa decisão foi um marco importante e teve como objetivo combater o monopólio dos estúdios sobre a produção, distribuição e exibição de filmes.
A Suprema Corte determinou que os estúdios deveriam se desfazer de suas redes de cinemas levando ao fim do controle verticalizado sobre a indústria cinematográfica.
Um outro grande fator e que acabou mudando por inteiro a indústria do entretenimento foi com a popularização da televisão na década de 1950 trazendo uma nova concorrência para os estúdios de cinema.
Com a televisão ganhando cada vez mais espaço nos lares americanos, o público tinha acesso a uma variedade de conteúdos gratuitos em suas casas, o que reduziu a frequência das entradas aos cinemas que eram de propriedade dos estúdios dominantes.
Essas mudanças no cenário da indústria cinematográfica permitiram uma reviravolta e uma nova forma de pensar e gerir as produções e a distribuição de filmes.
Os primeiros passos do cinema independente
À medida que o Sistema foi perdendo força e prestígio, novos entrantes surgiram de forma independente para desafiarem o controle dos grandes estúdios.
Diretores e produtores independentes ganharam mais liberdade para criar e experimentar em suas produções e projetos audiovisuais.
A década de 1960 trouxe uma série de mudanças sociais e culturais que também afetaram o cinema.
Os filmes começaram a explorar temas mais polêmicos e provocativos, refletindo as transformações da época.
Esse período também marcou o início do movimento conhecido como “Nova Hollywood”, no qual diretores como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Steven Spielberg emergiram, trazendo uma abordagem mais autoral e inovadora para o cinema.
Estúdio 3 no Complexo Paramount Studios em Los Angeles
A partir dos anos 1970, houve uma maior diversificação de modelos de produção e distribuição de filmes.
Os estúdios já não possuíam o controle absoluto sobre a indústria cinematográfica e diferentes empresas e produtoras independentes começaram a desempenhar papéis significativos na criação e distribuição dos filmes.
A ascensão do home video (como a extinta Blockbuster) na década de 1980 e, posteriormente, a popularização da internet e dos serviços de streaming na década de 2000 também impactaram profundamente o mercado cinematográfico.
Hoje, a indústria cinematográfica é caracterizada por uma maior diversidade de empresas e modelos de negócios.
Os estúdios de Hollywood continuam sendo importantes, mas agora competem com empresas independentes, plataformas de streaming (Netflix, Hulu, HBO, Disney, entre outras) e outros players do mercado.
Hollywood Boulevard em Los Angeles
Essa descentralização e fragmentação da indústria permitiram uma maior variedade de filmes, estilos e vozes criativas, resultando em um cenário cinematográfico mais diversificado e dinâmico.
O surgimento de cineastas independentes e a diversificação dos estúdios foram características marcantes e relevantes desse novo cenário do entretenimento mundial.
Conclusão
A indústria cinematográfica dos anos 1920 viveram sua glória sendo dominada por estrelas de garbo e elegância e profissionais de grande relevância para a cultura do cinema.
E o Studio System de Hollywood foi um sistema altamente fundamental na indústria cinematográfica que permitiu aos grandes estúdios controlar todos os aspectos da produção e distribuição de seus filmes.
Embora tenha entrado em declínio nas décadas de 1940 e 1950, sua influência e legado continuam a ser notados na indústria do cinema e audiovisual como um todo até os dias de hoje.