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Direção de Fotografia: Como Criar Uma Iluminação Profissional Para Vídeos

Entenda por que a qualidade da iluminação profissional para vídeos é um dos elementos mais importantes na criação de uma produção audiovisual profissional de qualquer porte.

Um dos papéis do produtor de vídeos é controlar a iluminação na hora da gravação.

E entender alguns conceitos básicos sobre iluminação é uma das tarefas cruciais para uma qualidade de imagem profissional.

Quando falamos em cinema, o diretor de fotografia é o grande responsável (junto com o diretor e a equipe de iluminação) por decidir o que será e o que NÃO será iluminado.

A luz é responsável por moldar o ambiente de gravação, estabelecer o clima e a atmosfera da cena para que os elementos visuais mais importantes da cena possam se destacar.

Por mais que utilizamos câmeras DSLR ou mirrorless de alto desempenho em luzes baixas, a ausência de uma boa qualidade de luz pode comprometer o resultado da imagem final.

O que é Qualidade de Luz?

Qualidade de luz é a combinação adequada de três elementos fundamentais para uma iluminação profissional: intensidade, cor e qualidade.

Para começar, é importante entender que a luz pode ser obtida de formas e tamanhos diferentes, sendo umas mais brilhantes do que outras, umas mais quentes ou mais frias em termos de temperatura de cor e suas diferentes tonalidades dentro do espectro de cores.

A qualidade da luz também pode ser afetada pelo tipo de refletor ou difusor que é usado para espalhar a luz pela cena.

Um dos aspectos mais importantes na qualidade da luz é a temperatura de cor.

A temperatura de cor se refere à tonalidade da luz e é medida através da escala Kelvin e representada pela letra K em maiúsculo.

Por exemplo, a luz natural do sol é considerada uma luz “branca”, com temperatura de cor média de 5500K.

No entanto, a luz artificial pode variar de 2700 K (tons mais quentes, como as luzes amarelas de uma lâmpada incandescente ou de uma vela) até 6500 K (tons mais frios, como os tons azulados das luzes fluorescentes ou do céu claro).

A escolha da temperatura de cor certa para cada cena é essencial para criar a atmosfera adequada. Por exemplo, a luz quente (amarelada) pode ser usada para criar uma sensação de conforto e intimidade como nos filmes de época ou romances, enquanto uma luz mais fria (azulada) pode ser usada para criar uma atmosfera mais tensa e emocionante como vemos em filmes de suspense.

Aspectos da qualidade da luz na iluminação profissional

Os três aspectos mais importantes de uma boa qualidade de luz na iluminação profissional são:

1. Intensidade

Intensidade da luz é a quantidade de brilho que uma determinada fonte de luz pode emitir em uma dada direção e ângulo.

Você pode controlar a intensidade da luz utilizando acessórios específicos como também posicionar a fonte de luz mais próxima ou afastada do objeto principal da cena.

Mas isso pode não ser tão simples quanto parece.

Se o espaço onde estiver gravando seus vídeos for pequeno ou mesmo se estiver ao ar livre utilizando a luz natural como fonte de luz principal, será praticamente impossível controlar a luz de forma eficaz.

Mas então como fazer?

Nestes casos você pode alterar o tamanho da luz em questão. Por exemplo, em uma pequena sala ou quarto você pode utilizar um difusor para deixá-la maior (quanto maior o difusor, mais espalhada será a luz) e mais suave.

Os softboxes são os tipos de fontes de luzes mais indicados para este tipo de ajuste (e muito usados na iluminação profissional), pois como o próprio nome diz, eles suavizam a luz na cena por conta da tela difusora leitosa disposta na frente da luz.

E se eu estiver gravando ao ar livre utilizando a luz do sol como fonte de luz principal?

Neste caso, você tem duas opções.

A primeira, e menos indicada, é fazer o uso das nuvens como um difusor natural. Sim, das nuvens!

Ao bloquearem a passagem direta do sol, elas provocam uma luz quase que uniforme em toda a superfície, o que facilita o controle das sombras (se houver) no assunto principal da cena.

Porém, o lado negativo das nuvens é que não podemos depender 100% delas, pois ao se movimentarem, você pode ter constantes mudanças na intensidade da luz do sol e ter que aguardar novamente até que elas voltem a cobri-lo.

“Quanto maior for a fonte de luz, mais suave ela será.”

E a segunda opção, e mais recomendada, é utilizar uma tela difusora ou um difusor portátil.

Este tipo de acessório é um dos mais práticos e eficientes para suavizar a luz do sol, principalmente em rostos e superfícies mais texturizadas.

Quando colocamos uma tela difusora maior do que a fonte de luz, ela aumenta a dispersão do tamanho da área iluminada deixando-a bem suave.

É por isso que quando vemos enormes telas difusoras colocadas a uma certa distância em frente a pequenos e potentes refletores (conforme abaixo), estas têm por objetivo iluminar uma grande área.

Tela difusora

Tela difusora para iluminação profissional | Foto de Troy Spoelma na Unsplash

Mas claro que isso não é possível com a luz solar. No entanto, você pode utilizar em fontes de luzes artificiais de diversos tamanhos e ainda assim posicionar um grande difusor para aumentar a área luminosa.

Uma outra forma de controlar a intensidade da fonte de luz é utilizar refletores.

Obs.: o termo “refletor” pode ser usado tanto para mencionarmos uma fonte de luz artificial como uma luz fresnel, um setlight ou um painel de LED como também para nos referirmos ao acessório utilizado para refletir a luz vinda de uma outra fonte.

Tanto uma parede branca quanto uma superfície metálica, dourada ou branca portátil podem servir em diversas situações, tanto internas quanto externas.

O refletor (acessório) irá funcionar combinando uma fonte de luz (artificial de uma luminária de LED ou natural como a luz do sol) a partir da reflexão da mesma.

Por exemplo, ao utilizar uma luminária de LED como fonte de luz principal iluminando um personagem do lado direito da cena, você pode posicionar o refletor no sentido contrário a luminária para que reflita a luz do lado esquerdo da cena.

Em um ambiente externo utilizando a luz do sol, basta posicionar o personagem de costas ou de lado do sol de forma que você consiga refletir a luz solar em seu rosto. Mas cuidado para não intensificar a luz refletida para que não ofusque a visão da pessoa que estiver sendo iluminada.

Já luzes mais duras podem ser controladas com o uso de bandeiras pretas que bloqueiam uma parte da luz emitida pela fonte.

Bandeira preta para video

Exemplo de bandeira preta para bloqueio de luz

Outra forma são os barn doors (abaixo), ou seja, pequenas placas de metal preto presas em volta de certos tipos de refletores que bloqueiam o feixe de luz emitido e direcionam melhor a luz na cena.

2. Cor

As cores desempenham um papel fundamental na percepção da qualidade de uma iluminação profissional, pois podem influenciar uma série de fatores na cena como a emoção, a narrativa e a mensagem que um determinado projeto audiovisual queira transmitir.

Sendo uma das principais características da luz, a cor pode ser definida como a percepção visual causada pela frequência da luz.

Basicamente as cores primárias são o vermelho, o verde e o azul, que combinadas formam todas as outras cores.

Cada cor possui um comprimento de onda diferente e afeta a percepção visual de formas diferentes.

Saturação e temperatura de cores na iluminação profissional

A saturação de cada cor também tem um efeito sobre a percepção visual.

Cores fortes e saturadas podem criar uma sensação vibrante e estimulante, enquanto cores dessaturadas podem criar uma sensação de nostalgia e melancolia como em alguns filmes de suspense e crime.

A luz também pode ser alterada de acordo com a temperatura de cor, que é medida na escala Kelvin (K).

As cores quentes têm uma temperatura de cor mais baixa, enquanto as cores frias têm uma temperatura de cor mais alta.

A temperatura de cor pode ser usada para criar uma sensação de realismo ou para adicionar um efeito dramático na cena.

Sendo uma ferramenta poderosa na narrativa audiovisual, o uso da cor apropriada na iluminação profissional pode transmitir emoções, criar atmosferas e estabelecer uma sensação de lugar e tempo.

Além disso, a iluminação pode ser ajustada para complementar as cores escolhidas. Por exemplo, uma iluminação forte e dura pode criar uma sensação de tensão como em filmes com cenas de interrogatórios, enquanto uma iluminação suave e difusa pode criar uma sensação de tranquilidade como nos filmes para a família e natalinos.

Correção de cor

Uma das maneiras mais comuns de usar as cores para implementar a qualidade da luz em projetos audiovisuais é através da correção de cor.

A correção de cor é o processo de ajuste das cores (não confundir com gradação de cor) em uma imagem para criar um equilíbrio tonal apropriado e dar uma aparência mais natural e agradável à imagem.

Isso envolve ajustar as cores primárias (vermelho, verde e azul) e suas matizes, bem como a luminância (sombras e brilhos) da imagem.

A cor e seus significados no audiovisual

Muito mais do que a aparência estética de uma imagem, as cores podem mudar completamente a atmosfera de uma cena ou de um filme todo (como vemos em O Grande Hotel Budapeste de 2014 do diretor Wes Anderson).

Entenda o que o brilho, a saturação e o matiz de cada uma das cores representa:

A faixa de cores que escolhemos para usar em um filme ou um vídeo (também conhecida como paleta de cores) nos ajuda a contar uma história.

Tome como exemplo filmes sangrentos como os do diretor americano Quentin Tarantino. O uso excessivo do sangue e sua intensa e saturada cor avermelhada nos faz sentir alguns tipos de emoção podendo definir o tom geral do filme (violento, sarcástico, sanguinário, e por ai vai).

Mas não é apenas o tom do filme que podemos criar em nossas mentes a partir das cores.

Também podemos identificar alguns traços de personagens através das cores. Assim como em O Poderoso Chefão, a rosa vermelha se destacando no terno preto de Don Vito Corleone nos passa um ar de superioridade e poder.

Vamos entender o significado de algumas das cores mais proeminentes do cinema:

Cores azuis transmitem sentimentos relacionados ao isolamento, serenidade, calma e até melancolia.

Por outro lado, a cor também pode ser usada para transmitir sensação de mistério ou de frieza e até algo estranho ou sobrenatural.

Tons mais claros de azul podem transmitir uma sensação de paz e relaxamento, enquanto tons mais escuros podem criar uma atmosfera mais sombria e tensa.

O laranja é uma cor vibrante. Assim como a própria fruta, ela simboliza saúde e bem-estar.

Cores alaranjadas podem remeter ao perigo como vemos em algumas embarcações e barcos de resgate.

Complementar ao azul, o laranja forma uma tríade com o verde e o roxo.

O verde está presente em assuntos como natureza, a cura, a generosidade, o renascimento, a fertilidade, renovação e até a doença e o ciúme.

Um exemplo muito claro do uso da cor verde em filmes na iluminação profissional é no longa metragem Matrix de 1999 e Coringa de 2019.

Por representar uma variedade de sensações, o verde deve ser analisado a partir de sua saturação e tom.

Por exemplo, verde com amarelo nos traz a sensação de doença e desconforto. Já um verde mais vibrante pode ser associado a natureza, liberdade e juventude.

Uma das cores mais usadas no cinema, tradicionalmente o vermelho, denota amor, desejos intensos, paixão, fogo, raiva e violência, perigo e um pouco de luxúria.

Tons avermelhados estão relacionados ao que é proibido (como nas placas de trânsito), ao que é polêmico e a sexualidade.

Você verá diversos tons avermelhados em filmes com histórias violentas, passionais e românticas.

Um exemplo clássico do uso do vermelho no cinema é a cena em que uma criança de aproximadamente três anos de idade surge em meio a um conflito trajando um casaco de frio vermelho dessaturado no filme A Lista de Schlindler de 1993 do diretor Steven Spielberg.

Por ser um filme em preto e branco, esta cena icônica simbolizou um dos momentos altos do filme entre a esperança e a desesperança e a culpa e a inocência e até fazendo parte do poster oficial do filme

Cor roxa ou próxima ao lilás muitas vezes representa o místico, o ilusório, o lado sinistro de um personagem ou lugar, a fantasia, o humor, sociabilidade e até o erotismo e a juventude.

O roxo ou lilás nos remete a lembranças de riqueza, luxo, sofisticação, poder e autoridade (lembram-se quando víamos a Rainha Elizabeth trajando roupas e acessórios nessa cor?).

Também, por ter um tom próximo ao rosa, é muito usado como referência a cores femininas e/ou românticas.

Cores em tons amarelados nos trazem a simplicidade, a ingenuidade e estranheza e muito ligados a nossa infância de momentos de calma e boas lembranças.

Por outro lado, o amarelo pode nos trazer sentimentos como o medo, a insanidade, a doença e a loucura.

Nesse contexto, é interessante notar quando vemos o símbolo da radioatividade em combinação com a cor preta associamos ao perigo, afaste-se, doença ou até a morte.

O uso da cor amarela saturada é visivelmente identificado no filme Kill Bill: Volume 1 de 2003 do diretor Quentin Tarantino.

Não apenas pelo figurino quase que monocromático da personagem principal The Bride, mas todo o poster oficial do filme, a cor predominante é o amarelo.

E por tratar-se de um filme de ação/policial/drama/suspense, vemos o amarelo como forma de ressaltar a força, o combate e o domínio da personagem vivido pela atriz Uma Thurman.

Conseguimos obter o rosa a partir da combinação entre o vermelho e o branco.

Na sétima arte, a cor rosa é a cor do romance, do charme, da doçura, da feminilidade, da diversão, da empatia e da beleza.

Em muitos casos, a cor rosa é associada ao sexo feminino.

3. Qualidade da luz

Podemos definir a qualidade da luz na iluminação profissional entre luzes “duras” e luzes “suaves”.

Uma luz “dura” é uma luz com as bordas da sombra mais definidas (sendo a luz do sol a mais “dura” que existe) enquanto na presença de uma luz mais “suave”, as bordas são mais…suaves.

Isso se dá ao fato da distância da fonte de luz (qualquer que ela seja, natural ou artificial) relativa ao objeto na cena. Ou seja, a qualidade da luz está diretamente ligada a este posicionamento entre fonte e objeto.

Quanto mais aproximamos a fonte de luz ao objeto principal da cena, mais suave torna-se a luz fazendo com que a sombra se prolongue gradualmente o que, consequentemente, reduz o contraste entre sombra e luz.

Luzes mais suaves são amplamente utilizadas em cenas em que deseja-se omitir determinadas texturas de um objeto ou um rosto.

Já, a luz mais “dura” é alcançada através do uso de fontes de luzes pequenas posicionadas longe do assunto principal da cena.

Ao contrário da luz suave, suas bordas são visíveis, possui alto contraste e intenso brilho com sombras extremamente profundas.

Um dos usos mais comuns de luzes “duras” são as utilizadas em grandes shows onde apenas o cantor é iluminado por uma fonte de luz pequena posicionada a vários metros de distância do palco.

A qualidade da luz também pode ser afetada pela intensidade da luz e pelo tipo de refletor ou difusor que é usado para espalhar a luz pela cena.

Medida em lux (intensidade luminosa por m²), a intensidade da iluminação profissional adequada pode ajudar a destacar os elementos mais importantes da cena como um objeto, um ambiente ou um personagem.

Podendo ser refletida ou difusa, a luz pode ajudar a criar uma sensação de profundidade e tridimensionalidade na imagem.

Combinando distância e intensidade da luz

Um fator determinante a ser considerado para garantir uma boa qualidade de luz é entender a Lei do Inverso do Quadrado.

Essa lei possui relação direta entre a qualidade da luz e a distância da fonte, pois ela determina a intensidade da fonte de luz e sua distância.

Isso ajuda na hora de controlar a fotometria (termo também muito utilizado na fotografia e iluminação profissional) de sua câmera ao saber qual a distância correta você deverá posicionar seu assunto principal do vídeo para que não ocorra em uma fotometria incorreta.

Para saber o quanto a luz ficará menos intensa e a área iluminada ficará maior ao afastar a fonte de luz do assunto principal, você pode usar a seguinte formula:

I = 1 / d²

Ou seja, ao afastarmos o assunto principal da fonte de luz ou vice-versa, a intensidade da mesma reduzirá na proporção do quadrado da distância de onde está posicionado o assunto.

Vamos imaginar o seguinte exemplo:

Você está gravando uma entrevista ou está falando diretamente para a câmera.

A pessoa está sentada e a fonte de luz está posicionada a 1 metro de distância dela.

Vamos supor que a intensidade da luz seja calculada e a abertura da íris indicada marque f/11 e você precisa reduzi-la e para reduzir, você deverá afastar de 1 para 2 metros de distância. Qual será a intensidade após o afastamento?

I = 1 / d²

I = 1 / 2² (onde d é a distância)

I = 1 / 4

Ou seja, a intensidade da luz a 2m de distância entre o ponto de luz e a pessoa ocorrerá em uma perda de 75% e será de apenas 25% do seu máximo e a abertura indicada será de f/4 (f/11 à f/8 à f/5.6 à f/4).

Lei do Inverso do Quadrado

Em resumo, quanto maior e mais afastada estiver a fonte de luz do objeto ou pessoa(s) iluminada(s), maior será a área coberta pelos feixes de luz do refletor de luz.

Conclusão

A qualidade da luz é um elemento fundamental em uma produção audiovisual e que todos os envolvidos devem conhecer a respeito de uma boa iluminação profissional.

A temperatura de cor, a intensidade da luz e o tipo de refletor ou difusor são fatores importantes a serem considerados na criação de uma atmosfera adequada em uma cena.

As cores, por desempenharem um papel importante na qualidade da luz no audiovisual deve ser escolhida cuidadosamente durante a etapa de pré-produção, pois se aplicada da maneira incorreta pode influenciar a percepção visual do público e criar uma atmosfera emocional que não esteja de acordo com a narrativa audiovisual.

Quando usada corretamente, a qualidade da luz pode elevar a qualidade de uma produção audiovisual a níveis profissionais.

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